JULIA LOPES DE ALMEIDA



ERA UMA VEZ...



RIO DE JANEIRO

Jacintho Ribeiro dos Santos

EDITOR

82, RUA SÃO JOSÉ, 82
1917




"Ao Dr. Manoel Murtinho Nobre.

Por mim e pelos meus.

Gratidão.




Nem só os olhos da cara
Vêem o que vai pelo mundo:
Ha outra vista mais clara,
Ha outro olhar mais profundo.
Com esse olhar, menos lento,
De olhos de mais atenção,
Vê mais longe o Pensamento,
Vê mais fundo o Coração.
FILINTO DE ALMEIDA.




ERA UMA VEZ...

Quando a Princesa Edeltrudes nasceu, era tão pequenina, tão pequenina,que poderia dormir á vontade dentro de um dos sapatinhos da Rainha suamãi. Mas o berço em que a meteram era muito lindo, todo de fios deouro entrelaçados e grinaldinhas de folhagens e de rosas, simuladas poresmeraldas o rubins.

Com medo de que a sua fragilidade a matasse, bafejaram-na, amimaram-na,rodearam-na dos mais extremados carinhos...

E a Princesinha resistiu, e foi crescendo cheia de vontades imperiosas.

Era ainda muito tenrinha quando um dia a mãi, ao embala-la com as suaspróprias mãos côr de cêra, deixou cair a cabeça sobre o peito eadormeceu... E assim como o berço deixou de oscilar, parou no peito daRainha o coração.

Houve gritos, lamentos, correrias, mas a criança no meio das suasrendas não percebeu cousa alguma e nem um estremecimento sacudiu acarnação rosada do seu corpinho rechonchudo.

E desde então o Rei viveu com medo de que á filha acontecesse o mesmoque acontecera á esposa, e jurou por isso não lhe dizer jámais navida um—não.

 *
*  *

Quando Edeltrudes começou a falar e a distinguir o que a rodeava, todos quevia eram seus servos. O próprio pai fazia-se seu escravo.—Que a tuavontade seja feita—era o que respondiam a todos os seus caprichos. Eela cada vez os tinha de mais difícil realização!

As damas da côrte e as aias viviam num suplício, e o povo cá fóraafirmava que a Princesinha tinha nascido sem coração.

Por isso a mãi lhe quisera dar o seu, sem o ter conseguido.

Poderia haver nada mais triste do que uma menina sem coração?

Todos os dias, mal abria os olhos, punha-se ela no seu leito a imaginarque tortura haveria de aplicar á primeira pessoa que lhe aparecesse; ea sua imaginação, exercitada nessa terrivel espécie de jogo,encontrava sempre um meio original de exercer a maldade. Toda gente nopalacio tinha alcunhas, até aos próprios velhinhos ela tratava por tue ordenava cousas dificeis e dolorosas.

E o Rei?

O Rei continuava a deixar que ela fizesse o que entendesse, todoembebido no seu amor paterno e na saudade da Rainha de mãos côr decêra e olhos côr de turqueza fluida...

E no entanto ele era um homem forte, autoritário, que fazia tremer oassoalho da casa ao peso dos seus passos, e ajoelhar os subditos ao

...

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