J. P. OLIVEIRA MARTINS
Portugal contemporaneo
3.ª EDIÇÃO (POSTHUMA)
e com as alterações e additamentos deixados pelo auctor
TOMO II
LISBOA
LIVRARIA DE ANTONIO MARIA PEREIRA—EDITOR
50, 52,—Rua Augusta—52, 54
1895
[Pg 1]
PORTUGAL
CONTEMPORANEO
No dia 15 de agosto, D. Pedro abriu solemnementeas camaras. A physionomia da assembléa eradiversa em tudo da de 26-8. Bem se póde dizerque não estava alli a maior parte da nação, exterminadapela guerra, ou jazendo esmagada sob opé do vencedor. Era o Portugal-novo que reinava,sobre os destroços e ruinas da nação antiga. A camarareunia-se n’um d’esses conventos saqueados,onde á pressa se levantou uma sala com paredespintadas de azul e branco e um tecto de vidraçasa que a rhetorica posterior chamou abobadas. Tudoera novo e cheirava ainda ás tintas, como o systemaimprovisado. D. Pedro, o faxina das trincheiros[Pg 2]do cerco, viro-se o mestre das obras parlamentares,e um desembaraço egual fez com quea casa se achasse tambem prompta a horas. Despresandoministros e conselheiros, tratou a obracom um rapaz havia pouco chegado de fóra, o architectoPossidonio. Esto fel-a, e teve a idéa depôr nas paredes, como ornato, uns medalhões como nomes dos homens celebres de Portugal. N’umescreveu o do marquez de Pombal. E quando osministros vieram vêr as obras exasperarem-se: «omarquez do Pombal! é lisongear Saldanha, meussenhores.» Seria o architecto da opposição? Houveconselho de ministros, em que se resolveu supprimiressa allusão perfida, dando-se ordem ao architectopara cobrir os nomes com uma aguadaque em dias humidos mal esconde as letras douradassubjacentes. (Apont. da vida, etc.)
Tal era, ainda depois dos accôrdos do Cartaxo,o receio que inspirava o chefe da opposição. Ascamaras iam abrir-se; e por mais que tivessemfeito, os ministros não tinham podido impedir queo Minho bucolico enviasse ao parlamento ManuelPassos, chefe sympathico e ingenuo de uma opposiçãopessoal ao regente e ao seu governo, e deuma opposição formal ás doutrinas da CARTA. Ossaldanhistas possuiam uma especie nova de LIBERDADE,e propunham-se decididamente a fazel-avingar sobre as ruinas da anterior. Fóra da camara,o Nacional, do Rio-Tinto que não gozavade boa fama, apoiava opposição parlamentar.
Constituiu-se a camara e começou a guerra. Aprimeira batalha foi a da questão Pizarro. O coronel,[Pg 3]eleito deputado por Traz-os-Montes, vierapara o reino, d’onde o expulsava um decreto formale pessoal do regente, e fôra preso e encerradoem S. Julião. Era um attentado á immunidade parlamentar,clamava a opposição; e o governo respondiaque a eleição fôra nulla pela inelegibilidadede um homem pronunciado por crime de alta traição.Sob t